sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Ídolo Também Veste a Camisa 1 - Parte 2

A IMAGEM IDEAL DO ÍDOLO

Com o fato histórico de 1950, rotulado por todos como ‘Maracanazo’, os goleiros brasileiros passaram, segundo Paulo Guilherme, no livro "Goleiros" (2006), por um longo período de falta de confiança por parte do torcedor. Isso só começou a mudar a partir da inovação da posição através dos treinamentos específicos realizados pelo ex-goleiro Valdir Joaquim de Morais.

 Anos mais tarde, em 1987, o Palmeiras, grande clube da capital paulista, revelava um novo goleiro para a posição de titular da equipe. Esse jovem goleiro é Armelino Donizetti Quagliato, mais conhecido como Zetti. Treinado pelo professor Valdir, Zetti teria a difícil missão de assumir a responsabilidade de defender o Palmeiras, que até o momento sentia uma carência de arqueiros, mostrando aquilo que ele sempre teve de melhor: muita responsabilidade. Segundo Guilherme (2006), não demorou muito para Zetti mostrar seu valor e se tornar ídolo do clube alviverde. No campeonato Paulista de 1987, por exemplo, o goleiro atingiu a marca de treze jogos, 1.238 minutos, sem tomar um só gol. Essa marca foi a quinta melhor da história do futebol brasileiro, conforme informa o livro “Dança dos Deuses” (2007).

Segundo Guilherme (2006), tudo andava perfeito demais para o goleiro. Sua evolução como jogador profissional acontecia de forma inesperada. Nem mesmo o frango que Zetti sofreu por debaixo das pernas ao não pedir barreira para tentar defender a cobrança de falta de Neto, que atuava pelo São Paulo, em partida válida pela semifinal do Campeonato Paulista, conseguiu inibir a “muralha” alviverde de crescer nos gramados. Nada poderia parar o goleiro, a não ser, como relatou Guilherme (2006), uma contusão, já que naquela época a recuperação para certas lesões eram muito mais demoradas do que nos dias atuais. A preocupação de Zetti, de acordo com o livro “Goleiros” (2006), era perder sua posição como titular, principlamente porque o Palmeiras sempre foi uma grande academia de goleiros, e lançar um novo jogador seria algo inevitável.

“O grande golpe na carreira de Zetti foi ter quebrado a perna ao dividir uma bola com o atacante Bebeto, do Flamengo, em 1988. O goleiro ficou afastado do futebol por seis meses, com a perna imobilizada. Quando pôde, finalmente, voltar a treinar, viu que seu lugar já estava ocupado. O Palmeiras, uma verdadeira fábrica de goleiros, já tinha revelado um substituto tão bom quanto ele, o garoto Velloso. E Zetti teve de sair em busca de emprego”.  (GUILHERME, 2006. p. 222).

Foi a partir desse momento que as coisas começaram a ficar difíceis para o goleiro. No retorno dele à equipe, foi obrigado a disputar vaga na reserva do time. Alguns clubes, sabendo que seria um tremendo desperdício ver Zetti fora dos gramados, tentaram negociações com o goleiro, porém o Palmeiras barrava.

Mas, de acordo com o portal oficial do goleiro1, a única forma que Zetti achou para deixar o clube foi comprando seu próprio passe, pois assim ele pôde negociar, sem nenhuma intervenção, com o um clube europeu, no qual teve uma curta passagem.

O guarda-metas, como também são chamados os jogadores que atuam debaixo das traves, retornou para o Brasil para assinar um contrato com o São Paulo Futebol Clube. E foi na equipe do Morumbi que Zetti viveu sua melhor fase e se tornou um dos maiores ídolos da história do clube, conquistando títulos importantes, como relata o livro “Nascidos para Vencer” (2009), dos jornalistas Luís Augusto Simon e Marcelo Prado. Comandado pelo técnico Telê Santana, Zetti passou a ser, ao lado de Raí e Müller, um dos homens de confiança do treinador. E foi no ano de 1992 que o goleiro chegou ao momento mais importante de sua carreira, conforme diz o jornalista Luis Augusto Símon (2010), no livro “Os 11 Maiores Goleiros do Futebol Brasileiro”. Foi o título de campeão da Taça libertadores da América, no qual foi conquistado depois do pênalti defendido por ele, na cobrança de Gamboa, do Newells Old Boys, da Argentina. E, se os títulos conquistados o levaram ao topo do futebol mundial, já que no mesmo ano de 1992 o São Paulo bateu o incontestável e temido Barcelona, da Espanha, o caráter e a tranquilidade dele o levou, definitivamente, ao rótulo de ídolo.

A boa fase lhe rendeu, também, o carinho da torcida brasileira e a convocação por parte de Carlos Alberto Parreira para integrar-se ao grupo que seria campeão da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, com a Seleção Brasileira.

Embora não tenha sido o titular, já que Parreira optou por Taffarel mesmo não atravessando seu melhor momento no futebol italiano, Zetti chegou à Seleção com status de melhor do Brasil. Como diz Guilherme, em “Goleiros” (2006), Zetti se sobressaiu principalmente pelos títulos de campeão Brasileiro (1991), Bicampeão da Libertadores da América (1992 e 1993) e do Mundial de Clubes (1992 e 1993), e vivia sua melhor época na carreira.
 
Talvez o que possa ter atrapalhado, de certa forma, sua concretização como o camisa 1 da seleção canarinho foi um fato que teve bastante repercussão na mídia brasileira. O goleiro do São Paulo, e reserva da Seleção Brasileira, “acabou sendo pivô de um episódio conturbado” (GUILHERME, 2006. p. 228). Embora não tivesse atuado contra a Bolívia, em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, em La Paz, Zetti foi um dos sorteados para fazer o exame antidoping após a partida. O resultado, como disse Paulo Guilherme (2006), foi “surpreendente”: a presença de cocaína foi encontrada na urina do goleiro que sempre foi conhecido como uma pessoa de bom caráter, um ídolo exemplar.
“Zetti foi suspenso preventivamente pela FIFA e a CBF partiu em sua defesa, alegando que tudo se tratava de um grande mal-entendido. A cocaína registrada no exame era consequência do chá de coca que Zetti consumiu para atenuar os efeitos da altitude. O Brasil contou ainda com o reforço de advogados bolivianos. O zagueiro Miguel Angel Rimba, da Bolívia, também foi suspenso pelos mesmos motivos. Os bolivianos mostraram à FIFA imagens do Papa João Paulo II tomando chá de coca para provar que aquela era uma prática comum e saudável no país”.  (GUILHERME, 2006. p. 229).
 
Tudo porque, no dia anterior, muitos jogadores da Seleção Brasileira consumiram o tal chá em grande quantidade para diminuir os efeitos da altitude. Como explica Guilherme (2006), o cansaço, a dificuldade para respirar e a tontura são os principais sintomas causados pela altitude da Bolívia. Mas não demorou muito para a FIFA reconhecer o mal-entendido e dar a anistia a Zetti, que retomou sua dignidade e voltor a ser o ídolo exemplar.
 
 
 
 
 
 
 
Em 1995, fui ao CT do São Paulo Futebol Clube e ganhei um autógrafo do Zetti na minha camisa de goleiro, réplica da que ele usava em seus jogos pelo São Paulo. A emoção foi tanta que sequer lavei a camiseta. O autógrafo permanece intacto no peito e em breve virará quadro. Anos mais tarde, em  2011, tive o enorme prazer de bater um papo com o ídolo em sua academia de goleiros (Fechando o Gol). Foi uma entrevista de quase 1 hora para o documentário "Goleiros - Onde não Nasce Grama, surgem Ídolos"  
 
 
 
 
 
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1 Trecho extraído do portal: , no dia 25/09/2011

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Tendo Gulherme no arqueiro, sem dúvida, foi a calma para todo o time. Eu o conheci quando ele foi para o petshop do meu avô para comprar uma caixa de transporte cachorro. Ele assinou um autógrafo para mim.