segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O atual futebol brasileiro é triste e decepcionante

Se fosse em outros tempos, quando eu não prestava tanta atenção no que acontece nos bastidores do futebol, a vitória de hoje do São Paulo sobre o Palmeiras seria motivo suficiente para eu dormir em paz e me preparar para tirar um sarro com a cara dos meus amigos palmeirenses no dia seguinte.
 
No entanto, o que sinto hoje pelo futebol é um misto de tristeza e decepção. O São Paulo bateu o Palmeiras por 2 a 1 e até poderia ter sido por um placar ainda maior, não fossem os erros grotescos de arbitragem, mas assim mesmo não convenceu e não estou feliz. O futebol atual é triste demais. Acabou aquela emoção, as disputas incríveis, os grandes craques, os grande clássicos, enfim.
 
E nem tanto pelo que o São Paulo vem apresentando dentro de campo, mas pelo que tenho visto em diversas partidas de muitas outras equipes do Campeonato Brasileiro. O futebol brasileiro sofre de um trauma muito doloroso. Uma pancada que sofreu do próprio esporte há anos, quando mudou-se a maneira de jogar bola, mas que o Brasil resolveu parar no tempo. E os dirigentes (cartolas) brasileiros, arrogantes como sempre, parecem não estarem tão preocupados com isso.
 
Haja visto o que aconteceu na última Copa do Mundo, na qual a nossa seleção se mostrou fragilizada e ultrapassada, o que levou a um verdadeiro vexame dentro de sua própria casa. E o que se viu de mudança de lá para cá? Nada. Nem mesmo uma conversa a respeito.
 
Quando se diz por aí que o Brasil precisa se reinventar, se atualizar, estão querendo dizer que há uma necessidade de transformação no modo como se gerencia esse esporte aqui no País. É preciso pensar, e rápido, numa fórmula eficaz de retenção dos nossos talentos de modo que esse "êxodo", tão praticado atualmente, aconteça cada vez menos, pelo menos não aconteça antes de o atleta ter uma formação dentro do clube onde foi revelado.
 
Ou seja, quero dizer que é necessário vetar, de alguma forma, a saída desses jovens atletas para o futebol exterior antes de eles se tornarem jogadores profissionais. Acredito que uma forma interessante seria criar uma lei que proíbe que um garoto seja transferido para o exterior antes de completar "x" idade, o que obrigaria o clube a ser o responsável pela formação desse jovem atleta. Isso seria extremamente salutar ao futebol brasileiro. 
 
Está mais do que na hora de a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se reunir com os representantes dos principais clubes do País para discutir o futuro do futebol brasileiro e elaborar soluções ao esporte, com mudanças drásticas de postura.
 
É impressionante o número de garotos, que sequer atuaram com profissionais nos seus clubes de origem, deixando o Brasil para se formar profissionalmente em outros países. E isso acontece por quê? Porque os clubes brasileiros sofrem com falta de dinheiro. E muitas vezes esses clubes percebem nesses garotos uma oportunidade para "fazer o caixa" e pensar em alguma contratação de nomes conhecidos no mercado.
 
O grande problema é que esses garotos acabam saindo do País por uma mixaria, o que não resolve o problema de ninguém: nem do clube, que não arrecada o que realmente necessita para investir em infraestrutura, e nem do próprio futebol, que acaba empobrecido no que diz respeito à qualidade dentro dos campos brasileiros.
 
Na Alemanha, por exemplo, o Borussia Dortmund deu um verdadeiro exemplo de administração e gerenciamento. Em 2005, o clube estava à beira da falência financeira. Afundado numa dívida de € 180 milhões (R$ 468 milhões). Para quem não sabe, a diretoria do Borussia chegou a pedir dinheiro emprestado ao seu maior rival, o Bayern de Munique que, mostrando que rivalidade começa e termina dentro das quatros linhas, não hesitou em ajudar.
 
Porém, o empréstimo não foi suficiente para tirar o Borussia da situação crítica. Salários altíssimos, contratações exorbitantes e uma administração completamente perdida e sem controle financeiro eram os principais motivos do momento conturbado do clube alemão.
 
Foi quando eles resolveram contratar uma consultoria em gestão empresarial, chamada Roland Berger, para resolver essas questões que já estavam fora de controle. As primeiras ações da consultoria foram: cortar os altos salários; parar com as contratações desnecessárias e investir, urgentemente, nas categorias de base do clube.
 
E deu certo. O Borussia Dortmund revelou diversos craques e passou a ser protagonista em diversas competições. Claro que, para isso, teve de mudar completamente seus costumes e ter paciência. Foi um trabalho focado na restruturação financeira do clube que rendeu, cinco anos depois, diversos títulos importantes, sem contar a participação na finalíssima da Champions League, em 2013. 
 
Só para não perder o fio da meada, ainda falando sobre Alemanha, a Bundesliga faz um trabalho incrível para equilibrar a competição. Ela controla as dívidas dos clubes de modo que nenhum clube alemão gasta mais do que entra de receita. Além disso, ao contrário do que acontece em muitos países, inclusive no Brasil, a divisão da cota paga pela TV para transmissão dos jogos é realizada de maneira muito mais justa.
 
Ao invés de negociar diretamente com cada clube, na Bundesliga a TV paga pelo campeonato todo. Ao término da competição, cada equipe recebe o equivalente pela sua posição. O principal objetivo é fazer com que os clubes pequenos consigam uma boa grana para investir em novos talentos e contratações, o que mantém o equilíbrio entre as equipes.
 
Talvez seguir algumas dessas iniciativas podem dar um rumo um pouco diferente ao futebol brasileiro que está ultrapassado e já não bota medo em mais ninguém.
 
Claro que, para colocar em prática qualquer nova ideia, é necessário uma boa conversa entre as instituições que comandam o futebol e os clubes brasileiros. Só assim poderemos ter esperança de que as coisas vão melhorar e que na próxima Copa do Mundo voltaremos a ser protagonistas e não coadjuvantes.

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