quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Dia do Goleiro

Hoje é o dia daquele que toma bolada, que em diversas situações carrega nas costas a responsabilidade de uma partida, que muitas vezes é visto como estraga-prazeres, enfim, hoje é dia do atleta mais injustiçado do futebol: O GOLEIRO.


O futebol surgiu na Inglaterra no ano de 1863. Mas apenas em 1871 a posição de goleiro foi criada.

Inicialmente, a ideia era ter um jogador que pudesse pegar a bola com as mãos para dificultar a vida dos outros dentro de campo.

Obviamente, por evitar o momento mais esperado do esporte - o gol -, o goleiro passou a ser o homem a ser batido e ganhou o rótulo de "grande vilão" do espetáculo.

O Brasil, que desde a chegada de Charles Miller, o grande responsável pela implantação do futebol no País, já se mostrava interessado pelo esporte bretão, enfrentava grandes problemas no que diz respeito a goleiros.

Geralmente o guarda-metas é aquele jogador que não tinha nenhuma habilidade com os pés. Pior que isso, em muitos casos mandavam para debaixo das traves os gordinhos, sem nenhum preparo físico ou a menor condição de correr meio metro do campo.

Claro que houve uma mudança nesse perfil. Mesmo porque, concluiu-se que quanto mais condicionado for o goleiro, mais agilidade ele tirá. O rendimento, sem dúvida, será maior.

Porém, o camisa 1 continuava a ser taxado como um inimigo.

Até mesmo seus companheiros de equipe o desprezavam como se fosse o "patinho feio" do grupo. Cronistas esportivos e pessoas ligadas ao futebol costumava dizer que em campo seriam "10 jogadores e mais 1". E era exatamente dessa forma que o goleiro se sentia: Apenas 1, largado, abandonado, isolado.


O "vilão brasileiro"

Em 1950, na Copa do Mundo realizada no Brasil, a seleção Brasileira vinha arrasadora. Na primeira fase havia batido o México (4 a 0),  empatou com a Suíça (2 a 2) e venceu a Iugoslávia por (2 a 0). Em suas chaves, o Uruguai, Suécia e Espanha também fizeram boa campanha e, assim, disputaram um quadrangular final para saber quem seria o campeão.

No quadrangular, Brasil e Uruguai se sobressaíram e disputaram a finalíssima, disputada no estádio do Maracanã.
O País inteiro parou para acompanhar o que seria o primeiro título mundial do Brasil.

A seleção canarinho era, sem dúvida, grande favorita ao caneco. Após vitórias esmagadoras sobre Suécia e Suíça, bastava apenas um empate diante do Uruguai e o sonho estaria concretizado.  

Aos dois minutos de bola rolando na segunda etapa Friaça abre o placar. Os mais de 200 mil espectadores no Maracanã foram à loucura. A comemoração estava armada. Nada estragaria a festa, assim pensaram.

Enganaram-se.

O Uruguai empatou com um gol de Juan Alberto Schiaffino, após cruzamento de Alcides Ghiggia, pela direita.
E foi depois do empate, faltando pouco menos do que 11 minutos para o encerramento da partida, que o Brasil conheceu o gosto mais amargo da bebida uruguaia. E foi, também, o momento mais tenebroso para um goleiro brasileiro.

Como se fosse um replay do primeiro gol uruguaio, Ghiggia descia pela direita como um trator desgovernado. Barbosa, o camisa 1 da seleção canarinho, e que até então havia feito uma tremenda Copa, percebeu a chegada de Shiaffino dentro da grande área.

Barbosa, tentando antever a jogada que parecia certa, deu alguns passos à frente e esperou o cruzamento e estava pronto para interceptá-lo. 

Mas como o futebol é algo inexplicável, Ghiggia errou o chute - o mesmo confessou anos depois - e a bola foi diretamente para o gol, passando entre a trave esquerda e a perna de Barbosa.

Uma fatalidade.

O Maracanã calou-se e Barbosa, sem forças, foi erguendo-se do chão, de onde preferia ter enterrado sua cabeça de tanta vergonha e decepção.

Não há dúvidas de que o culpado da derrota seria ele.

Barbosa passou de herói a vilão em frações de segundo. Sua vida nunca mais fora a mesma, embora depois da Copa ainda tenha feito jogos incríveis pelo Vasco da Gama e conquistado títulos importantes.

Anos depois, quando o Brasil se preparava para disputar a Copa do Mundo dos EUA, em 1994, Barbosa foi à Granja Comari, visitar a seleção brasileira e passar um recado aos goleiros. Porém, foi impedido de entrar. Zagalo não permitiu sua visita...


A "evolução"   

No final da década de 1960, o goleiro do Palmeiras Valdir Joaquim de Morais anunciava sua aposentadoria.

Mas menos de um ano após deixar os gramados, Valdir de Moriais estaria novamente atuando nos gramados, porém como preparador de goleiros.

À época, o técnico do Palmeiras era Osvaldo Brandão, muito amigo de Valdir.

Valdir tinha um pequeno comércio em São Paulo e Brandão frequentava quase que diariamente o estabelecimento do amigo.

Numa dessas visitas, convidou Valdir para ser auxiliar técnico. Foi quando Valdir sugeriu a Brandão a ideia dele se tornar um treinador de goleiros do Palmeiras. Brandão topou.

O professor Valdir, como é conhecido hoje, se tornou o primeiro treinador de goleiros da história.

Ele foi o grande responsável pela evolução da profissão de goleiros, que passou a ter atenção especial e treinamentos específicos. Goleiros como Waldir Peres, Leão, Carlos, Zetti, Rogério Ceni, Marcos, entre outros, foram treinados por ele.


A Posição

De lá para cá os goleiros foram se aperfeiçoando.

Algumas técnicas tiveram de ser adotadas para se adaptar às novas regras do futebol que, por sinal, beneficiam o jogador de linha, claro.

Para que você acha que os organizadores proibem que o goleiro fique com a bola mais de cinco segundos? Ou que peguem a bola com a mão quando recuada por um jogador do mesmo time?

Obviamente para facilitar o gol, que é o grande momento do esporte.

A cada ano que passa as bolas ficam mais leves. Isso permite que o atacante, ao chutar, coloque mais força e mais efeito sobre a redonda, o que dificulta ainda mais a vida do guarda-metas.

Na última copa do mundo, em 2010, na África, por exemplo, os goleiros andaram reclamando da leveza da tal "Jabulani" - nome dado à bola da Copa de 2010. 

O goleiro Cassilas, da Espanha, foi um dos que fez duras críticas a respeito. "Às vezes, é um pouco triste que uma competição tão grande como um Mundial tenha um elemento tão importante como a bola com essas péssimas condições", reclamou.

O fato é que a imagem de vilão que perseguiu os "guapos" do passado hoje não existe mais. Pelo menos não como antigamente.

Hoje em dia temos muitos goleiros ídolos, que vestem a camisa e se tornam grandes líderes. Basta ver Rogério Ceni e Marcos, no São Paulo e no Palmeiras, respectivamente.

Como o próprio professor Valdir me disse, "o goleiro sempre foi peça fundamental para uma equipe. Mas apenas agora perceberam isso". Todo grande time começa por um grande goleiro.

No documentário "Goleiros: Onde não Nasce Grama, Surgem Ídolos", Zetti, ex-goleiro do São Paulo e Seleção Brasileira, afirma que o primeiro a ter seu contrato renovado no time, atualmente, é o goleiro. "O clube, quando percebe que o goleiro é bom, ele já renova com o atleta o quanto antes".

Enfim, tudo isso simplesmente para mostrar a importância do goleiro no cenário esportivo.

Até porque é ele quem sofre, cai, se machuca, toma bolada, ouvi gritos e ainda tem nas costas toda a responsabilidade de impedir o sucesso do adversário.

Portanto, parabéns a você que é goleiro, seja profissional ou amador, por esse dia tão especial.


  

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