domingo, 12 de fevereiro de 2012

Toda e qualquer homenagem ao professor Valdir de Morais é pouca

Nos dias atuais, poucos boleiros ou profissionais do esporte bretão merecem homenagens em suas despedidas dos gramados.
A supervalorização da profissão de jogador de futebol conseguiu acabar com o que se tinha de mais bonito no esporte: o amor à camisa.

Dá para contar nos dedos os atletas que vestem a camisa e a honram com suor e paixão pela agremiação.
Diferentemente dos atletas do passado, que ganhavam pouco, muito pouco mesmo, mas que se dedicavam como se estivessem indo à guerra representar a nação sem se preocupar com o que iriam comer, ou vestir, ou como pagariam suas contas e seus alugueis após retornar da batalha.

Pouco tempo atrás, as grandes mídias televisivas perderam horas e horas para produzir e editar reportagens e documentários especiais que abordavam a aposentadoria de Ronaldo, por exemplo.
Mas essas mesmas mídias, e agora estou incluindo também os jornais impressos, os portais, os blogs e as rádios, sequer perderam os seus "preciosos" tempos para dar uma matéria digna sobre a aposentadoria, anunciada neste sábado, de um dos homens mais importantes da evolução da profissão de goleiros: o Sr. Valdir Joaquim de Morais.

Para quem não sabe, o Sr. Valdir foi um tremendo goleiro do Palmeiras, mas se consagrou mesmo no final da década de 1960 quando, ao se aposentar como jogador, tornou-se o primeiro "preparador de goleiros" no Brasil. Aliás, ele foi o criador da tal profissão.

Por onde passou conquistou muitos fãs e fez muitas amizades. Honesto, trabalhador e, principalmente, sensato, o "professor Valdir" diz que no futebol não é necessário desgastar um atleta para que ele alcance seus objetivos. Pelo contrário, "às vezes uma boa conversa depois de um treino produtivo é o essencial. O goleiro precisa ter prazer de treinar, não raiva", diz.

Sua competência se torna ainda mais evidente depois de ter treinado grandes jogadores no Palmeiras, no São Paulo e até na Seleção Brasileira - de 1982, comandada por outro mestre, o Telê Santana.

Nomes como Leão, Waldir Perez, Zetti, Velloso, Sérgio, Marcos, Rogério Ceni, dentro outros, foram goleiros que tiveram o privilégio de ter sido treinados por ele. Não é à toa que os nomes citados se tornaram grandes referências em seu clubes. Alguns, inclusive, com conquistas mundiais.
No segundo semestre do ano passado (2011), tive o enorme prazer de conhecer pessoalmente essa figura ilustre. Ele foi um dos principais personagens do documentário que dirigi sobre goleiros (Assista ao documentário).

Logo no primeiro contato (por telefone) fui muito bem tratado pelo até então consultor técnico do Palmeiras.

 - Alô, bom dia, Sr. Valdir. Meu nome é Fernando, sou jornalista e estou produzindo um documentário  sobre goleiros e gostaria de tê-lo como personagem do meu trabalho. Qual a chance de conseguir uma entrevista com o Sr.? - perguntei a ele.
 - Bom dia, Fernando. Como vai? Bom, não vejo problema algum em ajudá-lo. Quando você quer fazer? - respondeu o Sr. Valdir com a maior boa vontade.
 - Eu preciso dessa entrevista o quanto antes. Estamos com tempo curtíssimo para produzir o vídeo. Onde poderíamos gravar? - perguntei em seguida.
 - Para mim pode ser a qualquer momento, mas gostaria que fosse, de preferência, aqui no CT do Palmeiras, na Barra Funda, pois fica fácil para mim. - Explicou.
Na verdade, essa era a resposta que eu estava esperando, pois poderíamos, além da entrevista, gravar imagens do treinamento dos goleiros.
Daquela papo até o dia da entrevista, muitas outras conversas aconteceram e em todas ele se mostrou muito solícito.

No dia da entrevista, um sábado de muito sol, chegamos bem cedo no CT da Barra Funda para pegar o treino do Palmeiras, que por sinal estava completamente fechado para imprensa, por ordens do técnico Felipão, por conta da má fase da equipe no campeonato Brasileiro, mas o meu nome já estava autorizado na portaria. Tudo agilizado pelo professor Valdir.

A entrevista foi um sucesso. Por sinal, foi mais do que uma entrevista, foi uma verdadeira aula de futebol e de vida.

E é exatamente por saber de todo o valor dele como profissional do futebol, por tudo que ele fez para o esporte, por todos os goleiros que ele ajudou a subir da base para se tornar ídolo (o Rogério Ceni é um caso, pois foi o professor Valdir quem convenceu Telê de que o jovem goleiro já estava preparado para ser reserva do Zetti no profissional), por saber da pessoa que ele é, do seu caráter, entre outras mil qualidades, é que faço meu apelo à imprensa esportiva brasileira que tratou do assunto como se não houvesse a menor importância.

Eu, sinceramente, não poderia deixar passar batido.
Obrigado, professor Valdir, por tudo de bom que o Sr. mostrou a seus alunos. Obrigado por fazer parte da história do futebol por meio de seus ensinamentos.
Não só o futebol, mas o mundo precisa de pessoas como o senhor.    
    


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