A cabeça do ser-humano é fantástica. Ela possui um dispositivo chamado "memória" capaz de arquivar todos os tipos de acontecimentos, sejam eles bons ou ruins, que acontecem nas nossas vidas.
O torcedor, por exemplo, não esquece jamais do nome daquele grande jogadorque passou pelo seu clube de coração e deixou boas recordações. Não esquece também daquela grande jogada, ou daquele maravilhoso gol, ou talvez daquele título pra lá de importante.
Pois é. Na minha "gaveta de recordações" há um título conquistado pelo clube do meu coração que ficará eternamente na frente dos meus olhos. Uma taça que poucos times do Brasil tiveram a honra e disputar e ganhar.
Ele aconteceu na madrugada de um sábado para domingo, num 12 de dezembro de 1993. Mas é impossível falar do momento da conquista sem descrever como foi o dia em que antecedeu a partida.
Eu morava numa rua tranquila que ficava a um quarteirão da Avenida Paulista, na capital de São Paulo. Com apenas dez anos de idade, logo que acordei fui até a banca de jornal mais próxima, que ficava praticamente na frente do meu prédio, para ler as notícias esportivas. Aliás, essa atitude já estava acontecendo há pelo menos uma semana.
Queria estar por dentro de tudo que diziam a respeito do "Jogo do Século", como foi rotulado por alguns jornalistas esportivos da época.
O Milan, temido e respeitado campeão da Europa, enfrentaria o "dono" das Américas e detentor do último título mundial de Clubes, o São Paulo. Talvez o invejado currículo das duas equipes no cenário mundial e a força individual e coletiva de ambas explicavam o tal título dado para o confronto.
As ruas da capital estavam tomadas por cores vermelho, branco e preto. O hino são-paulino era escutado em cada canto que eu andava. O clima era de Copa do Mundo. Nunca tinha visto nada parecido no que diz respeito a um clube de futebol.
Os carros, cobertos por bandeiras do tricolor, passeavam lentamente pelas avenidas mais movimentadas da cidade, tocando suas buzinas que, aos poucos, viravam uma sinfonia um tanto quanto desajeitada, sem muito ritmo. Mas quem se importava com isso?
Estouros de rojões eram um atrás do outro, quase que sem parar. Parecia que o torcedor havia combinado. Só parecia.
E eu até que tentei esquecer um pouco da partida, até mesmo para tentar diminuir a ansiedade, já que o duelo estava marcado para às 2 da manhã, mas confesso que não dava.
A cada minuto que passava, ou que parecia não passar, eis que um frio na barriga subia e arrepiava o corpo inteiro. Almoçar até que almocei, mas a janta foi terrível. Se dei duas garfadas na comida, foi muito.
O pior de tudo é que minha mãe, a dona Cristina, são-paulina de coração, deixou bem claro a condição para eu assistir ao jogo: "Só vai assistir se for para cama às 21h, para poder dormir um pouco. Caso contrário não assiste a jogo nenhum". Claro que acatei, afinal de contas não poderia perder sequer a escalação.
Gol de Muller: O gol do Título |
O problema foi pegar no sono. Virei para um lado, para o outro, e nada de sono. Peguei meu Walkman e liguei na rádio Jovem Pan AM para escutar os comentários sobre o jogo tão esperado. Dessa forma acabei dormindo.
Só fui acordar com uma bateria de fogos, faltando 20 minutos para começar o jogo. Percebi que minha mãe estava acordada e aí levantei. Meu irmão fez o mesmo. E nem foi preciso trocar de roupa, pois dormimos com as nossas camisas do São Paulo.
O jogo começou e o coração que estava acelerado passou a disparar quando o Palhinha abriu o placar para o Tricolor do Morumbi. Massaro empatou no final do primeiro tempo. Mas o São Paulo foi valente e chegou ao segundo gol com o vovô Cerezo. O Milan voltou a empatar, dessa vez com Papin.
Tudo levava a crer que a partida terminaria empatada e que a prorrogação estaria por vir,. Foi quando, numa jogada esquisita, Muller faz o terceiro gol para o Tricolor. O gol do título. O gol que não sai da minha cabeça. Um título que ficará guardado até o dia em que eu não mais existir.
E hoje, num 12 de dezembro de 2010, essa conquista completa exatos 17 anos.
Parabéns ao São Paulo, hoje já tricampeão do mundo, por me trazer tantas alegrias como essa que relatei... Obrigado.
4 comentários:
Comecei a ler o seu texto em voz alta para todos,e no meio da leitura minha voz já começou a embargar... realmente vc nos passou muita emoção,gostaria de ter presenciado este título,pois admito que nesta época ainda não tinha a paixão que tenho hoje,paixão esta que devo muito a você...obrigada por me mostrar o quanto que é especial ser são-paulina!!
Carol, sua namorada.
do caraleo o seu texto........eu não me lembrava que era hoje...obrigado por lembrar...abraõs...
Meu caro,
Você sabe o quanto sou palmeirense de coração. Já deixei isso muito claro aqui no seu blog. E tbm vale te lembrar que em 93 o verdão bateu o seu tricolor pelo Brasileirão. Mas confesso que esse time do São Paulo campeão do Mundo em 93 foi um dos times mais brilhantes que vi jogar. E é por isso que lendo seu texto nesse momento me emociono.
Parabéns, meu amigo.
Marco Tullyo
Nem melhor nem pior, apenas diferente.
E dá-lhe porco.
Carol, meu amor.
Obrigado pelas palavras. É tão raro vê-la escrever aqui e, de repente, quando resolve escrever, profere lindas palavras. Obrigado.
Rafael,
Obrigado, meu velho. Você é sempre bem-vindo por aqui.
Marcão,
PalmeirenseNATO. rsrs. Fico contente que consegui emocionar vc com um texto sobre o São Paulo. Saiba que vc é sempre muito bem-vindo.
Um grande abraço a todos!
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