sexta-feira, 5 de março de 2010

O “espetáculo” do Jornalismo Esportivo

O futebol deixou de ser um lazer para se tornar um produto comercial e fonte de renda para muitas empresas, bancos e meios de comunicação

Por Fernando Richter e Breno Benedito

Quando Charles Miller retornou da Inglaterra para seu país de origem, o Brasil, em 1894, trouxe consigo mais do que uma bola. Em sua bagagem também embarcou o que hoje chamamos de paixão nacional: o futebol. Mas o esporte “bretão” cresceu e se tornou popular no mundo inteiro. Atualmente, é uma das principais fontes de receitas para gerar lucro. De acordo com a jornalista Patrícia Rangel, “o futebol movimenta, anualmente, mais de 300 bilhões de dólares e gera mais de 300 milhões de empregos diretos”.

Patrícia argumenta que “os meios de comunicação estão fazendo do futebol algo mais do que simplesmente esporte, mas como um ‘show de entretenimento’” para conseguir cada vez mais atrair o público e, dessa forma, atingir alto índice de audiência. O avanço tecnológico contribui para o que é chamado de espetacularização. Câmeras em todos os cantos do campo de futebol e com vários recursos de última geração, como o Slow Motion (uma super câmera lenta), possibilitam ao torcedor uma interpretação mais detalhada, trazendo-o para o mais perto possível do evento, neste caso o campo de futebol.

Geralmente, as transmissões de futebol começam muito antes do horário previsto, com o “pré-jogo”, na qual o narrador, que também tem papel de gerenciar/conduzir o espetáculo, chama o repórter para trazer notícias, novidades, curiosidades, estatísticas, e até mesmo a história de cada equipe, ou sobre o confronto delas. Ou seja, cria-se um bate-papo, muitas vezes até informal, sobre o jogo que será realizado. Mas isso também se estende depois dos jogos. Muitos programas esportivos, em forma de mesa redonda, se iniciam minutos depois do apito final dos árbitros, e são nesses programas que o “showrnalismo” ganha mais espaço, pois, o foco deixa de ser o resultado da partida para priorizar os lances que geram discussões. Isso tudo pelo duelo de audiência.

Segundo Patrícia, alguns lances selecionados e apontados como polêmicos são reprisados, em média, 27 vezes: uma jogada duvidosa, um pênalti, um gol mal anulado, uma falta mais dura, enfim. Uma das artimanhas de “espetáculo” é trazer ex-profissionais para relembrar momentos inesquecíveis, contar histórias, reviver jogadas, gols etc.
“Mas não só de audiência vive os programas esportivos. Os Merchandisings são outra fonte de renda muita utilizadas no jornalismo esportivo”, diz a jornalista. “Os meios de comunicação inovam a cada ano com as chamadas na TV para um jogo de abertura, para um começo de campeonato, enfim, tudo isso para vender o seu produto”, completa. O campeonato brasileiro, por exemplo, é assistido por mais de 200 mil pessoas e gera um lucro que chega a aproximadamente R$100 milhões. Já a Copa do Mundo, que é o maior evento esportivo, é vista por mais de 200 países, ou seja, são mais de 30 bilhões de espectadores.

Os anúncios publicitários e as marcas nas camisas utilizadas pelos jogadores também ganharam espaço com a finalidade de aumentar os cofres dos clubes de futebol. Como existe um forte casamento entre o futebol e a televisão, as empresas entenderam que é bastante interessante estampar seus nomes em uniformes de clubes de todo o mundo. Decorrente disso há grande disputa de espaço para conseguir contratos com as principais entidades.

No Brasil, a Coca-cola, em uma das edições do Campeonato Brasileiro, estampou a sua marca na maioria dos clubes. Bancos também já estão de olho neste mercado: a Visa patrocinou o Corinthians no retorno de Ronaldo. E este ano, foi a vez de investir no Santos, com o Robinho. O Banco BMG patrocina os dois principais times de Minas Gerais (Cruzeiro e Atlético-MG). Alguém tem dúvida que o futebol se transformou num produto comercial altamente vendável?

Nenhum comentário: