Mas este domingo ensolarado tinha algo de especial. As ruas estavam completamente forradas por panos nas cores verde e amarela. Havia um clima diferente que pairava pelo ar. As buzinas dos carros eram acionadas pelos donos dos veículos de forma exagerada. Cheguei a pensar que as pessoas tinham enlouquecido. E de fato tinham mesmo. O Brasil estava pronto para disputar uma vaga nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1990, na Itália, contra a Argentina.
Quando chegamos em casa, minha mãe já havia preparado um almoço maravilhoso. Se eu disser qual era o banquete estaria mentindo. Não lembro. Mas de barriga cheia, o jeito era ligar a televisão e acompanhar os preparativos para o evento mais esperado do mundo.
Poucos minutos para começar a partida e todos com suas televisões no último volume para acompanhar, talvez mais de perto, o hino Nacional Brasileiro. E isso acontece até hoje. Quando começa a tocar o hino, o país se emociona.
Neste momento, já vestia minha camisa autografada pelo Zico e, segurando uma bola de futebol, fixava meus olhos para a Tv aguardando as palavras do narrador Galvão Bueno iniciar, em definitivo, sua transmissão com o famoso “Bem amigos da Rede Globo...”. Outro momento que acelera o coração.
Certo frio na barriga tomava conta do meu corpo. O tal “gelado na espinha” ficava cada vez mais intenso quando o começo do grande espetáculo se aproximava.
Com a bola rolando, a atração principal da partida vestia as cores azul e branco. Maradona, que havia arrebentado na última Copa do Mundo, em 1986, era a grande expectativa desse clássico mundial.
Dentro de campo, o Brasil se mostrava mais ofensivo. Teve as melhores oportunidades da partida. Chutou bola na trave, perdeu gol, dominou o meio de campo, mas não conseguiu balançar a rede adversária. Não esqueço as palavras do meu pai a cada toque que Maradona dava na bola:
- Esse cara é o perigo.
- Segura esse baixinho, segura o cara.
Ele olha que ele até parecia não estar numa boa tarde, estava um pouco apagado. Mas craque é craque, e quando menos se esperava, foi dos pés dele que saiu o gol que marcaria uma lembrança histórica na minha vida. Ele driblou três brasileiros desde o meio de campo até perto da entrada da grande área, quando deu um belo passe para Cannigia, que driblou o goleiro Taffarel e fez o único gol da partida.
Mas eu tinha apenas sete anos e a única coisa que eu entendia era que quem fizesse mais gols, vencia a partida. E eu nunca tinha sentido nenhum tipo de sentimento que envolvesse o futebol. O contrário do que via no rosto dos adultos. Mas foi impossível não me chatear naquele momento.
Senti um silêncio que começava na minha casa, atravessava minha rua e invadia o Brasil todo. Parecia que todo mundo havia parado no tempo, como se uma bomba tivesse caído sobre o mundo e calado a espécie humana, ou melhor, a nação brasileira, já que na Argentina eles viviam o contrário de tudo isso.
Dalí em diante, minha mãe passou a roer todas as unhas da mão e meu pai a arrancar os cabelos, enquanto eu não desgrudava os olhos da telinha esperando por um gol da equipe de camisa amarelinha. Houve momentos em que isso parecia ser certo.
A cada chute que chegava próximo do arqueiro argentino, o narrador parecia que ia entrar dentro de campo. Infelizmente isso não aconteceu. Nem o Brasil marcou o gol de empate nem muito menos o narrador abandonou o microfone para empurrar a bola para o fundo do gol. E quando o juiz apitou o fim do jogo não pude conter as lágrimas. Eu conhecia, naquele momento, a minha primeira paixão e minha primeira desilusão no futebol.
A Copa de 1990 foi a primeira da minha vida: primeira que acompanhei, a primeira que torci, a primeira que sorri e a primeira que chorei, mas sem dúvida também será a primeira das quais jamais esquecerei.
FOTO: Tudo Pelo Futebol
Um comentário:
Hoje tem festa no http:\apenasumpontoesportivo.blogspot.com , são vários posts que valem a pena, vem pegar um pedaço de bolo.
Aposto que vai gostar:
Bolo: É festa!
Estatuto do Homem - Feliz Aniversário - com direito ao bolo e vela nas mãos do goleiro Marcos.
Rumo ao Sucesso eu vou até remando - porque o mundo dos blogs nos proporciona grandes amigos -
Desafio: É gol! Sim, festa = a gol. Você já fez um gol? Qual a sua façanha no esporte? Conte para nós!! Venha partilhar!!
Champanhe? Sim!!! O Harley do vôlei de praia marca a imagem do vôlei nesta festa, é hora de cantar o parabéns!!
Um espaço esportivo pode ser palco do amor, porque o esporte envolve muito mais do que vemos: envolve o que sentimos. Amor em gol de placa - uma crônica de amor.
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Ps. cada poste tem um autor.
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