domingo, 20 de junho de 2010

Parece que foi ontem

Era um domingo de sol e, como de costume em finais de semana, meu pai me acordou para um passeio no parque, ao lado da minha casa, num bairro da zona sul de São Paulo. Com apenas sete anos de idade, minha principal diversão era jogar futebol. Torcedor do São Paulo, meu ídolo era um goleiro, o Zetti, recém contratado do clube paulista.

Mas este domingo ensolarado tinha algo de especial. As ruas estavam completamente forradas por panos nas cores verde e amarela. Havia um clima diferente que pairava pelo ar. As buzinas dos carros eram acionadas pelos donos dos veículos de forma exagerada. Cheguei a pensar que as pessoas tinham enlouquecido. E de fato tinham mesmo. O Brasil estava pronto para disputar uma vaga nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1990, na Itália, contra a Argentina.

Quando chegamos em casa, minha mãe já havia preparado um almoço maravilhoso. Se eu disser qual era o banquete estaria mentindo. Não lembro. Mas de barriga cheia, o jeito era ligar a televisão e acompanhar os preparativos para o evento mais esperado do mundo.

Poucos minutos para começar a partida e todos com suas televisões no último volume para acompanhar, talvez mais de perto, o hino Nacional Brasileiro. E isso acontece até hoje. Quando começa a tocar o hino, o país se emociona.

Neste momento, já vestia minha camisa autografada pelo Zico e, segurando uma bola de futebol, fixava meus olhos para a Tv aguardando as palavras do narrador Galvão Bueno iniciar, em definitivo, sua transmissão com o famoso “Bem amigos da Rede Globo...”. Outro momento que acelera o coração.

Certo frio na barriga tomava conta do meu corpo. O tal “gelado na espinha” ficava cada vez mais intenso quando o começo do grande espetáculo se aproximava.

Com a bola rolando, a atração principal da partida vestia as cores azul e branco. Maradona, que havia arrebentado na última Copa do Mundo, em 1986, era a grande expectativa desse clássico mundial.

Dentro de campo, o Brasil se mostrava mais ofensivo. Teve as melhores oportunidades da partida. Chutou bola na trave, perdeu gol, dominou o meio de campo, mas não conseguiu balançar a rede adversária. Não esqueço as palavras do meu pai a cada toque que Maradona dava na bola:

- Esse cara é o perigo.

- Segura esse baixinho, segura o cara.

Ele olha que ele até parecia não estar numa boa tarde, estava um pouco apagado. Mas craque é craque, e quando menos se esperava, foi dos pés dele que saiu o gol que marcaria uma lembrança histórica na minha vida. Ele driblou três brasileiros desde o meio de campo até perto da entrada da grande área, quando deu um belo passe para Cannigia, que driblou o goleiro Taffarel e fez o único gol da partida.

Mas eu tinha apenas sete anos e a única coisa que eu entendia era que quem fizesse mais gols, vencia a partida. E eu nunca tinha sentido nenhum tipo de sentimento que envolvesse o futebol. O contrário do que via no rosto dos adultos. Mas foi impossível não me chatear naquele momento.

Senti um silêncio que começava na minha casa, atravessava minha rua e invadia o Brasil todo. Parecia que todo mundo havia parado no tempo, como se uma bomba tivesse caído sobre o mundo e calado a espécie humana, ou melhor, a nação brasileira, já que na Argentina eles viviam o contrário de tudo isso.

Dalí em diante, minha mãe passou a roer todas as unhas da mão e meu pai a arrancar os cabelos, enquanto eu não desgrudava os olhos da telinha esperando por um gol da equipe de camisa amarelinha. Houve momentos em que isso parecia ser certo.

A cada chute que chegava próximo do arqueiro argentino, o narrador parecia que ia entrar dentro de campo. Infelizmente isso não aconteceu. Nem o Brasil marcou o gol de empate nem muito menos o narrador abandonou o microfone para empurrar a bola para o fundo do gol. E quando o juiz apitou o fim do jogo não pude conter as lágrimas. Eu conhecia, naquele momento, a minha primeira paixão e minha primeira desilusão no futebol.

A Copa de 1990 foi a primeira da minha vida: primeira que acompanhei, a primeira que torci, a primeira que sorri e a primeira que chorei, mas sem dúvida também será a primeira das quais jamais esquecerei.

FOTO: Tudo Pelo Futebol

Um comentário:

Rafaela Andrade disse...

Hoje tem festa no http:\apenasumpontoesportivo.blogspot.com , são vários posts que valem a pena, vem pegar um pedaço de bolo.

Aposto que vai gostar:

Bolo: É festa!

Estatuto do Homem - Feliz Aniversário - com direito ao bolo e vela nas mãos do goleiro Marcos.

Rumo ao Sucesso eu vou até remando - porque o mundo dos blogs nos proporciona grandes amigos -

Desafio: É gol! Sim, festa = a gol. Você já fez um gol? Qual a sua façanha no esporte? Conte para nós!! Venha partilhar!!

Champanhe? Sim!!! O Harley do vôlei de praia marca a imagem do vôlei nesta festa, é hora de cantar o parabéns!!

Um espaço esportivo pode ser palco do amor, porque o esporte envolve muito mais do que vemos: envolve o que sentimos. Amor em gol de placa - uma crônica de amor.

Você é nosso convidado!
Participe!!
Ps. cada poste tem um autor.