sexta-feira, 4 de junho de 2010

Como será em 2014?


“Não vejo vantagem nenhuma em ter a cidade de São Paulo como sede de abertura da Copa”, disse o jornalista esportivo Flávio Prado


Nem começou o Campeonato Mundial de futebol na África do Sul e o tema que estampa os jornais diariamente já é a próxima edição do evento que será realizado no Brasil, em 2014. A discussão, que antigamente mal passava das mesas de bares, exerce um papel muito importante para a sociedade, principalmente por envolver questões políticas e sócio-econômicas. Sendo assim, o assunto é debatido não apenas por simples torcedores de futebol, mas por toda população brasileira.

Falta de infraestrutura, desvio de verbas, sub-faturamento e atraso nas obras de novos estádios são problemas que preocupam o torcedor mais apurado, dirigentes de clubes e até a mídia esportiva. “Lamento profundamente em saber que haverá Copa do Mundo e Olimpíada aqui no Brasil, pois são os dois maiores eventos esportivos do mundo, no qual deveriam ser realizados apenas por países ricos, estabilizados”, diz Flávio Prado, jornalista esportivo da rádio Jovem Pan e da TV Gazeta, ressaltando que “Copa é diversão e não prioridade”. Para o jornalista, o Brasil carece de fortes investimentos em outros setores cuja deficiência ainda é visível como hospitais, escolas e segurança pública. “Precisamos pensar é no pobre, que não tem uma cama no leito do hospital, não tem segurança descente, muito menos uma escola digna para seu filho”, ressalta.

Construções de novas arenas e reformas em estádios já existentes no País serão necessárias já que a FIFA exige algumas regras específicas de segurança e conforto, não só aos jogadores e envolvidos no evento, mas também aos torcedores que prestigiarão o espetáculo esportivo. O destino misterioso de grande parte do dinheiro público que será disponibilizado para essas obras é algo em que Flávio Prado costuma enfatizar nos seus programas de esporte. Segundo ele, a quantidade de dinheiro que é movimentada nesse tipo evento é muito grande e, muitas vezes, gerenciada por pessoas que fazem o mau uso dessa verba. “Quando isso cai nas mãos de políticos como os que temos no Brasil, a certeza é de que teremos grandes desvios de dinheiro”, afirma.

Sede de Abertura - O Estado de São Paulo, junto à diretoria do São Paulo Futebol Clube, luta para conseguir sediar a abertura da Copa do Mundo de 2014. O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, diz quase que diariamente em entrevistas que as exigências impostas estão sendo cumpridas e as obras no Estádio do Morumbi começarão o quanto antes. Há pouco tempo, Jerome Valcke, representante da FIFA, havia criticado o projeto do São Paulo que foi enviado à entidade esportiva. De acordo com Flávio Prado, tudo não passou de um “mal entendido político”. “Bastou o São Paulo colocar a empresa alemã, que a FIFA indicou, no processo de reforma do estádio para que o secretário geral da FIFA, Valcke, mudasse o discurso”, explicou.

Além do problema com o Estádio do Morumbi, que ainda é dúvida para a abertura, chegou-se a cogitar a possibilidade de o Estado de São Paulo, considerado o centro financeiro do País, não ser sede oficial da Copa. Sem dúvida o torcedor da capital paulista não entenderia tal atitude caso isso realmente acontecesse. Do mesmo jeito pensa Prado, porém ele diz que não vê vantagem em ter a cidade de São Paulo como sede de abertura. “Existem quase 200 eventos por ano que lotam todos os grandes hotéis da capital e que envolvem uma estrutura financeira muito boa. E se não quiserem fazer uma Copa do Mundo do jeito que São Paulo deseja, então que não se faça. Azar da Copa do Mundo”, exclama o jornalista.

Perfil – Flávio Prado é jornalista esportivo e começou como repórter de campo. Atualmente é comentarista da Rádio Jovem Pan e apresentador do programa Mesa Redonda, da TV Gazeta, além de participar do telejornal de esportes “Gazeta Esportiva”. E foi nos estúdios da Pan que Flávio mes concedeu a seguinte entrevista...

Fernando Richter – Você acredita que a Copa do Mundo pode não dar certo?

Flávio Prado – Pelo contrário. Vai dar muito certo porque os caras querem fazer, querem gastar dinheiro. Na verdade funciona da seguinte forma: Eles atrasam as obras e aí entram com as obras emergenciais. Porque isso é um compromisso do Governo brasileiro. Em síntese, é também um compromisso do povo. Portanto, as obras vão sair de qualquer jeito, mas quanto mais atrasar melhor porque o processo se torna mais caro. Se não houver concorrência pública pega-se o dinheiro e esse valor acaba caindo numa vala pública. Ou seja, não há interesse em começar as obras na hora certa e com concorrência pública leal. Esse não é o objetivo deles. O objetivo é roubar. E é uma grande desculpa para que se tenha muito dinheiro nas mãos de pessoas que não merecem crédito nem para cuidar de cofrinho de criança, quanto mais esse valor todo que será investido nesses eventos.

Fernando Richter – A infraestrutura é um problema para sediar a Copa no Brasil?

Flávio Prado – O Brasil não possui um estádio descente. Para o Panamericano, foram criadas algumas áreas de excelência, até para ser bem visto por turistas e atletas, mas o Rio de Janeiro continuou com problemas de violência. Para se ter uma idéia, houve até acordo para que os ataques de bandidos parecem naquele período. E isso acontecerá também na Copa do Mundo. Não ficará nenhum legado. Estão projetando estádio no Pantanal, no Amazonas, e nem times de futebol existem naquela região. O que farão com esses estádios depois da Copa? Será que os hospitais de Cuiabá, por exemplo, são bons? Será que a segurança e as escolas públicas de Manaus são boas?

Fernando Richter – O problema se estende em outros setores públicos...

Flávio Prado – Com certeza que sim. Até pouco tempo atrás, o São Paulo foi fazer um treino em Natal. Um jogador se machucou durante as atividades e não havia um equipamento de ressonância magnética. Para atender o jogador, tiveram de levá-lo a Recife. E, por incrível que pareça, essa cidade fará parte de uma Copa do Mundo. Isso é muito sério. E não precisamos ir longe. Vá a um hospital público aqui em São Paulo. Uma tia minha, recentemente, ficou esperando no corredor, numa maca, para ser atendida num hospital próximo da Avenida Paulista. E estou falando de um hospital localizado na região central da maior cidade do Brasil. Imagine como deve ser no interior do País, onde não há vigilância e nem controle. É um absurdo.

Fernando Richter – A Federação Paulista de Futebol (FPF) é parceira da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O rompimento diplomático entre o São Paulo Futebol Clube e a FPF pode ser um fator primordial para que o Morumbi não seja palco de abertura da Copa do Mundo de 2014?

Flávio Prado – Na verdade, a idéia da CBF é construir um novo estádio em São Paulo. Pois uma cidade como essa, rica, na qual haveria muito interesse de investimento, muito dinheiro rolaria para construir um novo estádio. Partindo desse princípio, o São Paulo F.C. já tem um grande problema. Quando o clube resolveu começar as reformas no Morumbi contratando engenheiros brasileiros, ele criou novo problema, porque a FIFA tem seus profissionais de confiança. Neste momento, a FIFA chegou a anunciar que a situação do Morumbi estava cada vez mais difícil para ser sede da Copa. Bastou o São Paulo colocar a empresa alemã, que a FIFA indicou, no processo de reformulação do estádio para que o secretário geral da FIFA, Jerome Valcke, mudasse o discurso. Na minha cabeça, o estádio do Estado de São Paulo é o Morumbi. Não é lá grande coisa, mas é o que temos de melhor. E não há necessidade de construir um novo estádio. Isso, como já disse, não é prioridade. A cidade de São Paulo precisa de coisas mais importantes.

Fernando Richter – Caso isso não aconteça a Cidade de São Paulo corre o risco de não ter a abertura e até de não ser sede da Copa do Mundo...

Flávio Prado - Não vejo vantagem nenhuma em ter a cidade de São Paulo como sede de abertura da Copa. Acho até que a cidade de São Paulo deveria exigir a abertura sim, mas se não querem dar a ela, então ela deveria dizer que não quer absolutamente nada. São Paulo não precisa disso. Existem quase 200 eventos por ano que lotam todos os grandes hotéis da capital e que envolvem uma estrutura financeira muito boa. E se não quiserem fazer uma Copa do Mundo do jeito que São Paulo deseja, então que não se faça. Azar da Copa do Mundo. Não muda absolutamente nada para a capital paulista realizar ou não uma Copa.

Fernando Richter – E como dizer isso à população de São Paulo já conta com jogos na capital?

Flávio Prado - O povão não terá acesso. Os que tiverem, serão os mesmos que podem ir à África do Sul, ao Canadá, à China, enfim. Fica-se uma ilusão de que o cidadão verá um jogo importante, quando no máximo assistirá Argélia contra Coreia do Norte, ou o que sobrar. Há quem diga, inclusive, que o valor mais barato de um ingresso de uma partida considerada simples custará em torno de R$ 500,00, ou seja, realmente não é destinado ao povão. Estão gastando uma fortuna enorme para esse evento pensando no “privilegiado”. Mas privilegiados já temos muitos aqui no Brasil, o que precisamos pensar é no pobre, que não tem uma cama no leito do hospital, não tem segurança descente, muito menos uma escola digna para seu filho.

Foto Logo da Copa: Blog Vale Comentar

4 comentários:

Aline Moura disse...

Essa Copa do Mundo nem começou e já está sendo uma verdadeira disputa de interesses...

A novelinha do Morumbi que pelo que parece ainda não acabou, cada vez mais exigências...


São Paulo pode ser uma Dúvida pela infraestrutura dos estádios e além do mais porque não a abertura da copa no Maracanã (RJ)?

Mas os interesses são mais favoráreis do que contrários a sua realização no Brasil.

Em 2010 o primeiro desafio da Seleção é conquistar a confiança dos brasileiros por um time totalmente desacreditado. Depois podemos pensar em 2014.

Fernando Richter disse...

Pois é Aline,

Infelizmente o Brasil é isso mesmo. Na verdade, a ideia da CBF não é fazer abertura e encerramento no Rio, mas a abertura no maracanã e o encerramento em algum estádio NOVO. E porque um estádio Novo? Porque dessa forma as obras podem ser um motivo para tirar mais dinheiro do povo. entende?

Entre sempre no Papo de Bola. Você é sempre bem-vinda!

bjs

Anônimo disse...

A briga do São Paulo não é mesmo por sediar a a abertura da Copa e sim para impedir a cidade de ganhar um novo estádio - sonho de FPF e Corinthians.Seria um prejuízo enorme pro clube em todos os sentidos,inclusive, de pegar dinheiro público a juro baixo e poder pagar a perder de vista. A da cidade sim.
Não entendo pq o conformismo com a final no Maracanã. Pq ninguém luta pelo direito de sediar a final?
Afinal, a maior derrota do futebol brasileiro foi no Maracanã.

Hugo

Fernando Richter disse...

Hugo,

Obrigado pela visita. Seja sempre bem-vindo no Papo de Bola.

Concordo com você. Há um comodismo enorme quando se fala em encerramento da Copa. Mas será que o Maracanã comportatodas as exigências da FIFA? Duvido. O estádio mostrou inclusive que pode ficar debaixo de água, caso uma chuva forte caia sobre o Rio. Enfim.

Um grande abraço.