sábado, 19 de março de 2011

O homem que lutou pelo "passe livre"

O texto de hoje sai um pouco da rotina desse blog. Escreverei algo que vai além de simplesmente informar os resultados dos jogos da rodada ou até mesmo da habitual opinião sobre o que vem acontecendo no futebol atual. Hoje, tenho uma história bacana para contar: O pontapé inicial para o "passe livre".

Todas as vezes em que me encontro com meu sogro Brenno Silveira, um homem culto, intelectual, de voz serena e um conhecimento indiscutível, além de são-paulino nato, acabo conhecendo histórias fantásticas do esporte mais querido do mundo. A partir de hoje, terei o prazer em colocá-las aqui, neste humilde espaço reservado ao futebol.

Voltamos à década de 70, período em que o nosso País vivia momentos conturbados com a Ditadura Militar. E o futebol, por sua vez, andava numa linha paralela ao regime, que tinha como presidente da República o ditador Emílio Garrastazu Médici, um apaixonado pela "bolinha". Até hoje não se sabe ao certo o que, de fato, derrubou o técnico João Saldanha, um jornalista comunista, do cargo da nossa Seleção Brasileira. Não é preciso ser tão inteligente para adivinhar, certo?

Mas o personagem não é Saldanha, nem Médici, nem tão pouco Pelé. A citação dos "anos 70" foi apenas para ilustrar a coragem que Afonso Celso Garcia Reis, o "Afonsinho", como era conhecido, teve ao encarar os cartolas e ser o primeiro jogador de futebol a adquirir o próprio passe, o que atualmente é pra lá de normal.

Afonsinho diferenciava-se dos outros. Era um jovem inteligente, estudante de medicina, porém  rebelde. Chegou a ser proibido de jogar futebol por causa da enorme barba que deixou crescer. Muitos dizem que foi um ato de protesto, por não aceitar muitas coisas que aconteciam dentro do esporte. Uma delas, a do jogador não poder ter seu próprio passe.

Nunca foi um atleta excepcional, mas poderia ter figurado na Copa do Mundo de 1974, porém foi vetado. No mesmo ano, aproveitando seu afastamento, o jogador do Botafogo do Rio de Janeiro iniciou uma batalha jurídica e política para conseguir os seus direitos. Conseguiu. Tornou-se o primeiro atleta a poder negociar diretamente com o clube que quisesse, propagando, inclusive, a ideia de todo jogador ser o seu próprio agente.

"O discurso dos diretores do Botafogo era esse: 'ele vai se enterrar vivo'. Mas deu errado. depois do olaria, joguei no Flamengo, Fluminense, Vasco e Santos, além de concluir meu curso de Medicina. Foi difícil, mas consegui encerrar minha carreira aos 35 anos. Não fui um Dom Quixote. Lutar pela liberdade foi uma opção consciente de vida", disse Afonsinho ao Jornal do Comércio de Recife.

A atitude corajosa, como mencionei mais acima, não deu privilégios apenas a Afonsinho, mas foi o pontapé inicial para uma revolução no que diz respeito a um direito legal do atleta: ter o arbítrio de escolher o clube que pretende defender.

Em 02 de setembro de 1976, o então presidente general Ernesto Geisel sancionou a Lei nº 6.354, dispondo sobre as relações do atleta profissional do futebol. Em 24 de março de 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a lei nº 9615, mais conhecida como "Lei Pelé". Tudo isso se deve a Afonsinho, que deu sua cara a tapa numa época em que nem andar nas ruas era tão simples.

Vale a homenagem a ele, Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gol de Letra do Fernando.

O Afonsinho, embora pouco conhecido pelos mais jonvens,tornou-se uma lenda viva do futebol brasileiro. O jovem rebelde , hippie , que encarou a ditadura e o autoritarismo que imperava no esporte bretão. (imperava?)
Parabéns pela bela matéria.
Abraço, Brenno Silveira Filho

Fernando Richter disse...

Presença ilustre aqui no Papo de Bola!!!!!!!!!!!!!!

Muito obrigado pelo comentário.

É sempre muito bem-vindo por aqui.

abraço,

Gabriel disse...

Ô raça rara de jogadores que pensam fora das quatro linha