quinta-feira, 15 de abril de 2010

Gostei muito

Muito interessante o texto do amigo Wagner Belmonte, no site www.santistaroxo.com.br

Segue abaixo a reprodução:

Falta ao Santos um gol de placa

Por Wagner Belmonte

As ruas do centro de Campinas devem ter um "belo" desfile de camisas da Ponte Preta numa das cidades mais importantes do País. A medicina, a cultura, as universidades e a economia daquela região têm importância inegável. O futebol, em contrapartida, é motivo de vergonha.

Ao chegar à faculdade em que trabalho, ouvi do meu chefe, o Prof. Ary Rocco, a escalação dos times da Ponte e do Guarani na década de 70. Jogar contra a Ponte ou o Guarani em Campinas impunha medo a qualquer outro "grande".

À Ponte, embora tivesse um timaço, coube protagonizar o fim do jejum corintiano naquele 1x0 num Morumbi lotado, em 1977. Desde o título do quarto centenário (1954), os alvi-negros da capital não saboreavam o gosto de um título. (VÍDEO YOUTUBE - CORINTHIANS 1X0 PONTE) Além de Valdir Perez, a Ponte teve Oscar, que foi zagueiro do São Paulo e principalmente da inesquecível seleção de 82. Teve Polozzi. Teve, principalmente, Dicá, meia à moda antiga. Dicá seria hoje titular absoluto de qualquer equipe do País.

O Guarani foi além. Em 1978 (VÍDEO YOUTUBE - GUARANI 1X0 PALMEIRAS - FINAL DO CAMP. BRASILEIRO DE 1978), num jogo cercado muita polêmica, o alvi-verde do interior superou o da capital e sagrou-se campeão brasileiro. Entre os jogadores daquele time, Zenon, que depois se tornaria ídolo no Corinthians, e Careca, algoz do próprio Guarani no Campeonato Brasileiro de 1986, com a camisa do São Paulo montado pelo técnico Cilinho e que traria à superfície os "Meninos do Morumbi", chamados também de "Menudos do Morumbi" por boa parte da imprensa. (VÍDEO YOUTUBE - SÃO PAULO 3X2 GUARANI - FINAL DO CAMP. BRASILEIRO DE 1986).

Não há como não estar feliz com os 8x1 de ontem. Mas eles também são ironicamente tristes. Eles selam que o Guarani e a Ponte Preta, apesar de uma bela história, são figurantes. E vivem dessa remota e irresgatável história. Nós, santistas, corremos o mesmo risco e acho que não tivemos uma percepção mais aprofundada dele.

Tão importante quanto a estabilidade econômica que os tucanos - esse exótico grupo político que acha que só tem virtudes - alardeiam como a maior obra do século passado para toda a humanidade, sem dúvida, foi a Lei de Responsabilidade Fiscal. Seria muito interessante algo similar para o futebol. Isso faria com que Eduardo José Farah e Beto Zini, entre outros tantos dirigentes, explicassem por que ficaram tão ricos e o clube deles, coincidentemente o Guarani, tão pobre, tão inexpressivo.

Os torcedores da Ponte que sairão às ruas com as camisas de seu time, numa provocação até saudável e sarcástica dos 8x1 de ontem, deviam pensar que essa briguinha de marido e mulher entre alvi-negros e alvi-verdes campineiros torna ambos muito menores. A rivalidade, claro, deve existir. Ela é fundamental no futebol.

Perder de 7x1 para o Corinthians no Camp. Brasileiro de 2005 foi doloridíssimo. Perder de 6x0 do Palmeiras em 1996 - e na Vila - também foi. Mas acho que passa, cada vez mais, pela percepção da importância do adversário o restabelecimento do futebol de Campinas. Sem hipocrisia: claro que estou feliz da vida. Vejo meu time, que durante anos foi figurante, ganhar de 8, 9, 10 gols. Vejo-o jogar para frente. Vencer e convencer. Vejo-o ainda resgatar as vocações mais legítimas do futebol brasileiro. Entre elas, o atrevimento de atacar o tempo todo, duramente punido naquela burocracia tática de Lazaroni na Copa de 1990 (e que bom que foi punido).

Mas o grande gol que o Santos ainda precisa fazer é levar às últimas, sem corporativismo, sem os folclóridos representantes da quase inexistente e fictícia ONG Santos Vivo - aqueles mesmos que deram "atestado de qualidade" para a chapa de oposição e, depois, sem constrangimento nenhum, arrumaram cargos na gestão Marcelo Teixeira - a investigação dura, responsável, séria sobre as contas do clube nas gestões anteriores.

É sobre esse último gol que deve recair a nossa esperança de um futuro estruturalmente promissor. A imprensa cai na tentação de comparar Neymar a Messi. Se Neymar é Messi, o Guarani é o Arsenal?

Teremos a mesma estrutura que o Barça tem para preservar e manter os nossos talentos sempre próximos?

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